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Um lugar para aproximar a ciência da população brasileira

Os efeitos da contaminação por Mercúrio na saúde humana

É conhecido pela ciência que a contaminação dos rios por Mercúrio utilizado no garimpo ilegal, acarreta num aumento da neurotoxicidade e distúrbios neurológicos, além de maior fragilidade do sistema imunológico. E por isso que houve um aumento de forma significativa do número de mortes por pneumonia nos povos Yanomami, além de mortes por desnutrição severa principalmente em crianças e idosos devido aos graves sintomas de vômito e diarreia, além da má formação no nascimento das crianças, e ter aumentado de forma significativa o número de mortes por malária e outras doenças tropicais.

A malária é uma doença endêmica na região Amazônica já conhecida desde 1880, mas infelizmente ainda é negligenciada e até os dias de hoje não é completamente compreendida. E o mais triste é que além de ser transmitida pelo protozoário Plasmodium vivax, também já é reconhecido a existência do Plasmodium falciparum que é muito mais suscetível a mutações no seu genoma, e a contaminação pelo Mercúrio que é altamente reativo em consequência de ser um metal pesado, acelera ainda mais esse processo. E por isso, até mesmo medicações já consolidadas no tratamento da malária como hidroxicloroquina e primaquina perdem sua eficácia.

A toxicidade de metais pesados

A explicação à nível molecular do porquê metais pesados são tão prejudiciais à saúde humana e de outros seres vivos, e que além da sua altíssima reatividade, também descontrolam o funcionamento das mitocôndrias, que são as principais responsáveis por gerar energia na forma de moléculas de ATP para todos os processos metabólicos no organismo. Consequentemente, a principal consequência dessa disfunção é a enorme fraqueza sentida pelos pacientes, mas também a maior formação de radicais livres que torna as pessoas mais propensas ao desenvolvimento de um câncer, além de também acelerar o processo de envelhecimento. Sabe-se que o Mercúrio ao entrar com a água e bactérias se transforma em um metabólito ainda mais tóxico, que é o metilmercúrio (CH3Hg ou MeHg).

Embora a população Yanomami tenha sido a mais afetada pela contaminação, na verdade, todos da capital e em outros municípios da região norte também sofrem com os altos níveis de metilmercúrio na água. O órgão do Departamento de Saúde nos Estados Unidos, o FDA, que possui a mesma importância da Anvisa para nós brasileiros, estabeleceu o limite de concentração do metilmercúrio na água para consumo humano em 1 ppm (partes por milhão), que também equivale a 1 mg do contaminante para cada 1L de água consumida. Em um artigo publicado em 2001 mediante uma parceria internacional tantos com pesquisadores brasileiros mas também de outros demais chegaram a encontrar uma concentração de 20,8 ppm em habitantes de um vilarejo próximo ao Rio Tapajós. Cerca de 21 anos depois, agora em 2023, certamente os níveis de concentração devem ser ainda maiores, o que evidencia a enorme problemática.

A importância do investimento em saúde pública e também em pesquisa no Brasil

Por tudo isso é tão importante um maior investimento no sistema público de saúde, mas também em pesquisa científica em todas as áreas do conhecimento. Desta forma, um estudo aprofundado pelas ciências humanas desde as origens dessa problemática, suas consequências físicas, psicológicas e antropológicas nos povos Yanomami e como resolvê-la são imprescindíveis. Enquanto isso, no campo das ciências da natureza e da saúde há necessidade de um monitoramente contínuo da concentração do Mercúrio e seu metabólito metilmercúrio, garantindo que haja uma água potável para consumo humano e também de outras espécies. Além disso, por meio da biotecnologia seria possível utilizar bactérias para biorremediação dos compostos orgânicos como metilmercúrio e seus derivados, por exemplo. Mas a nanotecnologia também poderia ser muito útil principalmente para a forma inorgânica do Mercúrio pela alta capacidade e seletividade de aderir a nanoporos que podem chegar até 2 nm (cerca de um 1 milhão de vezes menor que um fio de cabelo). E mais recentemente, pesquisadores do Instituto de Química da USP descobriram que uma proteína chamada de metalotioneína consegue capturar vários metais livres no organismo humano, que se aplicada em larga escala poderia salvar muitas pessoas contaminadas pelo Mercúrio e seus subprodutos.

Referências:

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mercury-and-health

https://agencia.fapesp.br/estudo-detalha-atuacao-de-proteina-que-captura-metais-livres-associados-a-doencas-neurodegenerativas/36684/

https://revistapesquisa.fapesp.br/filtro-verde-remove-metal/

https://jornal.usp.br/universidade/projeto-de-despoluicao-de-agua-feito-na-usp-competira-nos-eua/

Akagi, H., Malm, O., Kinjo, Y., Harada, M., Branches, F. J. P., Pfeiffer, W. C., & Kato, H. (1995). Methylmercury pollution in the Amazon, Brazil. In Science of The Total Environment (Vol. 175, Issue 2, pp. 85–95). Elsevier BV. https://doi.org/10.1016/0048-9697(95)04905-3